Aqualtune é, segundo a tradição, a mãe de Ganga Zumba e
avó materna de Zumbi dos Palmares.[1] Ela
seria uma princesa africana, filha de um rei do Congo ainda
não identificado. Ela também poderia ser avó de Ganga Zumba.
Aqualtune liderou, em 1665, uma força de dez mil homens na Batalha de
Mbwila (cidade localizada na atual Angola), entre
o Reino do Congo e Portugal, e foi
capturada com a derrota congolesa. Sabe-se que o rei do Congo nesta época
era Antônio I, cujo o nome nativo era Nvita a Nkanga e era
membro da Dinastia de Nlanza. Não se sabe o grau de parentesco que Aqualtune
supostamente tinha com este rei mas especula-se que poderiam ter sido irmãos,
já que Nvita teve um reinado curto de 4 anos, tendo falecido justamente na
Batalha de Mbwila. Se isso for correto o pai de Aqualtune teria sido o rei
Garcia II, cujo nome nativo era Nkanga a Lukeni a Nzenze a Ntumba, que governou
o Congo entre 1641 e 1661, falecendo de idade avançada.
Foi então aprisionada e trazida para o Recife no Brasil, vendida
como escrava reprodutora. Ao ficar grávida, foi vendida para o engenho de Porto Calvo, onde
tomou conhecimento do Quilombo dos Palmares.[1]
Nos últimos meses de gravidez organizou uma fuga
para Palmares, onde liderou um dos mocambos que recebeu seu nome. Ela teria
dado à luz Ganga Zumba e Gana, que se tornaram chefes de dois dos mais
importantes mocambos de Palmares. Posteriormente teria dado a luz a Sabina, que
seria a mãe de Zumbi, o grande líder dos Palmares.[1]
Aqualtune, com seus conhecimentos políticos,
organizacionais e de estratégia de guerra, foi fundamental para a
consolidação do Estado Negro, a República de Palmares.[1]
Rainha e guerreira, Aqualtune é um dos principais nome
da resistência afro-brasileira contra a escravidão e o racismo.
Texto /
Vinicius Martins Imagem /
Alma Preta
A
história de Aqualtune é singular na memória afro-brasileira. Sua vida começa no
continente africano, no Congo, no século XVI. Era princesa, filha do rei
Mani-Kongo, respeitada por seu papel nas terras congolesas.
Veio
ao Brasil após ver seu pai e seu reino derrotados na Batalha da Ambuíla, contra
as forças angolanas e portuguesas pelo controle do território de Dembos, que
separava Angola e Congo.
Historiadores
afirmam que durante os confrontos, Aqualtune liderou 10 mil pessoas durante uma
invasão contra seu reino. Entretanto, a resistência não foi capaz de frear os
angolanos e os interesses portugueses.
Ao
fim da guerra, seu pai foi decapitado e ela foi capturada por forças
portuguesas. Foi vendida à senhores de escravos brasileiros junto de seus
compatriotas.
Uma
vez no Brasil, mais especificamente no Recife, foi vendida como escrava
reprodutora para uma fazenda em Porto Calvo no Pernambuco, onde foi estuprada
para dar origem a novos cativos de acordo com os interesses dos senhores de
escravos.
No
entanto, sua força se fez presente mais uma vez. Ao ouvir falar da resistência
negra no Brasil, constituída em quilombos, Aqualtune não perdeu tempo e junto
de outros escravos lutou pela liberdade e fugiu da fazenda em que estava
aprisionada.
Mesmo
no Brasil, a fama de Aqualtune entre a população negra era grande. Seu passado
e sua realeza foram importantes para que em Palmares ela logo assumisse
novamente uma posição de liderança. A partir das tradições de sua cultura,
comandou o maior Quilombo da história brasileira.
Com
o passar dos anos tornou-se mãe. Seu filho e herdeiro veio a ser conhecido como
Ganga Zumba. Tempos depois tornou-se avó. E seu neto era nada mais nada menos
que Zumbi do Palmares.
A
data de sua morte e o fim de sua vida são incertos. Relatos apontam que
aconteceu depois de anos como forte liderança da resistência negra local. Há
quem diga que morreu durante uma emboscada paulista para destruir o Quilombo
dos Palmares, durante um incêndio. Outras teorias afirmam que ela teria fugido
e vivido seus últimos dias de vida em paz em outra comunidade.
Pouco
lembrada pelos livros e pelas escolas do Brasil, Aqualtune foi uma figura
importante para a resistência afro-brasileira no período colonial. Simbolizou
liderança e luta diante do sistema escravocrata e fez questão de passar isso
adiante, seja através de seus filhos ou de seus seguidores em Palmares.
Dia da Mulher Afro-latinoamericana e caribenha
No
ano de 1992, na cidade de Santo Domingo, República Dominicana, instituiu-se 25
de Julho como o dia da Mulher Afro-latinoamericana e caribenha. A data visa dar
destaque à resistência das mulheres negras em toda a América Latina e à luta
contra o racismo e o machismo.
O
Brasil só adotou a data no calendário oficial da nação em 2 de Junho de 2014, o
que sagrou o país como o último a celebrar o dia de maneira oficial. A lei
12.987, proposta de autoria da ex-senadora Serys Slhessarenko, escolheu por
homenagear o 25 de Julho com o nome da líder quilombola do Mato Grosso, e
transformar a data em Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Ao
longo das comemorações, o Alma
Preta resgata a história de mulheres importantes para a
história negra na América Latina. Conheça na próxima semana, a história da
peruana Victoria
Santa Cruz.
Princesa-
guerreira, um dos maiores símbolos de resistência e luta pela liberdade
negra, mãe de um dos maiores líderes pela luta da liberdade negra, e
avó de talvez o maior dos líderes da luta contra a escravidão. Ou se você
quiser resumir, simplesmente Aqualtune.
Não
consegui saber de fatos sobre a infância da princesa. Seu rastro histórico
começa no ano de 1665, quando, segundo a história, liderou cerca de 10mil
guerreiros congoleses, no que ficou conhecido como “a Batalha de Mbwila”,
quando a sua tribo foi atacada por outra de nome “Wachagas” - há quem diga que
o conflito foi provocado pelos portugueses, interessados em cativos para o
comércio de escravos. O fato, é que a tribo de Aqualtune perdeu o combate, e a
cabeça o pai dela, o rei de Mani-Kongo, foi cortada e exibida em uma igreja,
enquanto a sua filha, foi presa com seus companheiros e vendida como escrava.
Então,
teria sido enviada em um navio negreiro para o forte de Elmina, em Gana, onde
teria sido “batizada” por um bispo católico e, como prova de seu batismo, foi
marcada uma flor com ferro quente em cima do seu seio esquerdo. Daí, completou
a travessia no navio negreiro para o Brasil, onde desembarcou em Recife.
Alguns dizem que ela já teria embarcado grávida, e teria sido estuprada diversas
vezes por outro escravo, pois, forte e saudável, foi escolhida para ser vendida
como escrava reprodutora. Conta que em desespero, ao embarcar em Recife,
teria tentado correr para o mar- provavelmente uma tentativa desesperada de
voltar para a sua terra natal.
Porém,
nossa guerreira se encontrava em um estado de letargia profundo. Provavelmente,
depressão- e quem não compreenderia? Já em Recife, foi vendida para
uma fazenda especializada em gado e o dono da fazenda, ao saber da sua origem,
e que Aqualtune ainda era venerada por alguns escravos devido a sua origem, a
entregou para os seus piores homens em sua fazenda.
E
a letargia em nossa heroína continuava. Até que, na altura do sexto mês de
gravidez, ela sentiu seu bebê se mexer e “seu sangue se mexeu junto”.
Então,
ela ouviu falar em um chamado “Reino dos Palmares”. Desde o primeiro
momento da escravidão no Brasil, que vários negros criaram centros de
resistência fugindo para o interior. Mais ou menos em 1606, um grupo de
escravos conseguiu se estabelecer nas montanhas de Pernambuco, e ali
conseguiram estabelecer um “mocambo”, na região conhecida como Palmares.
Então,
surgiu em Aqualtune a vontade de fugir e se juntar ao povo de Palmares. Se
juntou a um grupo de escravos para se insurgir e destruir a casa grande.
Conseguiu e , no meio de sua fuga, mais escravos foram se somando ao grupo ao
longo do caminho. Conta-se que chegaram com ela cerca de 200 escravos ao
Reino de Palmares. Então, alguns contam que sua origem real teria sido
reconhecida, mas o fato é que ela se tornou o líder do Reino dos Palmares. E
dentro do chamado reino dos Palmares, ela teria fundado o chamado “Quilombo dos
Palmares”. Ali, Aqualtune deu à luz a dois filhos, ambos guerreiros que
também entraram para a história: Ganga Zumba e Ganga Zona, conhecidos pela
sua coragem e liderança. Também teve uma filha, de nome Sabina, que teve mais
tarde, um menino chamado Zumbi, que mais tarde ficaria conhecido como “Zumbi
dos Palmares”, e seria reconhecido como um dos maiores líderes negros da
história.
O
final da vida de Aqualtune é controverso. Alguns dizem que uma das várias
expedições enviadas pelo governo português e donos de fazenda, teriam queimado
a vila onde ela vivia junto com outros idosos da comunidade. Outros alegam que
ela teria conseguido fugir. Outros ainda afirmam que ela simplesmente morreu de
doenças da velhice. O fato, é que há uma lenda que os deuses
da África teriam tornado nossa guerreira imortal, um espírito ancestral
que conduziu seus guerreiros até a queda definitiva do quilombo dos palmares em
1694. Dizem que até hoje ela é lembrada em Pernambuco, e a princesa, cantada na
música Zumbi, de Jorge Bem Jor, seria uma referência à Aqualtune.
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