quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Aqualtune: princesa africana e rainha quilombola no Brasil


Segue abaixo, a compilação de alguns textos que condensam algumas informações sobre a princesa congolesa Aqualtune e sua atuação no Brasil, sobretudo sua importância para a luta quilombola.
O objetivo é incentivar os leitores a continuarem a pesquisa para conhecerem mais a fundo, esta, e outras pessoas importantes da história afro-brasileira.

Aqualtune é, segundo a tradição, a mãe de Ganga Zumba e avó materna de Zumbi dos Palmares.[1] Ela seria uma princesa africana, filha de um rei do Congo ainda não identificado. Ela também poderia ser avó de Ganga Zumba. 
Aqualtune liderou, em 1665, uma força de dez mil homens na Batalha de Mbwila (cidade localizada na atual Angola), entre o Reino do Congo e Portugal, e foi capturada com a derrota congolesa. Sabe-se que o rei do Congo nesta época era Antônio I, cujo o nome nativo era Nvita a Nkanga e era membro da Dinastia de Nlanza. Não se sabe o grau de parentesco que Aqualtune supostamente tinha com este rei mas especula-se que poderiam ter sido irmãos, já que Nvita teve um reinado curto de 4 anos, tendo falecido justamente na Batalha de Mbwila. Se isso for correto o pai de Aqualtune teria sido o rei Garcia II, cujo nome nativo era Nkanga a Lukeni a Nzenze a Ntumba, que governou o Congo entre 1641 e 1661, falecendo de idade avançada.
Foi então aprisionada e trazida para o Recife no Brasil, vendida como escrava reprodutora. Ao ficar grávida, foi vendida para o engenho de Porto Calvo, onde tomou conhecimento do Quilombo dos Palmares.[1]
Nos últimos meses de gravidez organizou uma fuga para Palmares, onde liderou um dos mocambos que recebeu seu nome. Ela teria dado à luz Ganga Zumba e Gana, que se tornaram chefes de dois dos mais importantes mocambos de Palmares. Posteriormente teria dado a luz a Sabina, que seria a mãe de Zumbi, o grande líder dos Palmares.[1]
Aqualtune, com seus conhecimentos políticos, organizacionais e de estratégia de guerra, foi fundamental para a consolidação do Estado Negro, a República de Palmares.[1]


Rainha e guerreira, Aqualtune é um dos principais nome da resistência afro-brasileira contra a escravidão e o racismo.
Texto / Vinicius Martins Imagem / Alma Preta
A história de Aqualtune é singular na memória afro-brasileira. Sua vida começa no continente africano, no Congo, no século XVI. Era princesa, filha do rei Mani-Kongo, respeitada por seu papel nas terras congolesas.
Veio ao Brasil após ver seu pai e seu reino derrotados na Batalha da Ambuíla, contra as forças angolanas e portuguesas pelo controle do território de Dembos, que separava Angola e Congo.
Historiadores afirmam que durante os confrontos, Aqualtune liderou 10 mil pessoas durante uma invasão contra seu reino. Entretanto, a resistência não foi capaz de frear os angolanos e os interesses portugueses.
Ao fim da guerra, seu pai foi decapitado e ela foi capturada por forças portuguesas. Foi vendida à senhores de escravos brasileiros junto de seus compatriotas.

Uma vez no Brasil, mais especificamente no Recife, foi vendida como escrava reprodutora para uma fazenda em Porto Calvo no Pernambuco, onde foi estuprada para dar origem a novos cativos de acordo com os interesses dos senhores de escravos.
No entanto, sua força se fez presente mais uma vez. Ao ouvir falar da resistência negra no Brasil, constituída em quilombos, Aqualtune não perdeu tempo e junto de outros escravos lutou pela liberdade e fugiu da fazenda em que estava aprisionada.
Mesmo no Brasil, a fama de Aqualtune entre a população negra era grande. Seu passado e sua realeza foram importantes para que em Palmares ela logo assumisse novamente uma posição de liderança. A partir das tradições de sua cultura, comandou o maior Quilombo da história brasileira.
Com o passar dos anos tornou-se mãe. Seu filho e herdeiro veio a ser conhecido como Ganga Zumba. Tempos depois tornou-se avó. E seu neto era nada mais nada menos que Zumbi do Palmares.
A data de sua morte e o fim de sua vida são incertos. Relatos apontam que aconteceu depois de anos como forte liderança da resistência negra local. Há quem diga que morreu durante uma emboscada paulista para destruir o Quilombo dos Palmares, durante um incêndio. Outras teorias afirmam que ela teria fugido e vivido seus últimos dias de vida em paz em outra comunidade.
Pouco lembrada pelos livros e pelas escolas do Brasil, Aqualtune foi uma figura importante para a resistência afro-brasileira no período colonial. Simbolizou liderança e luta diante do sistema escravocrata e fez questão de passar isso adiante, seja através de seus filhos ou de seus seguidores em Palmares.
Dia da Mulher Afro-latinoamericana e caribenha
No ano de 1992, na cidade de Santo Domingo, República Dominicana, instituiu-se 25 de Julho como o dia da Mulher Afro-latinoamericana e caribenha. A data visa dar destaque à resistência das mulheres negras em toda a América Latina e à luta contra o racismo e o machismo.
O Brasil só adotou a data no calendário oficial da nação em 2 de Junho de 2014, o que sagrou o país como o último a celebrar o dia de maneira oficial. A lei 12.987, proposta de autoria da ex-senadora Serys Slhessarenko, escolheu por homenagear o 25 de Julho com o nome da líder quilombola do Mato Grosso, e transformar a data em Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Ao longo das comemorações, o Alma Preta resgata a história de mulheres importantes para a história negra na América Latina. Conheça na próxima semana, a história da peruana Victoria Santa Cruz.

Princesa- guerreira, um dos maiores símbolos de resistência e luta pela liberdade negra, mãe de um dos maiores líderes pela luta da liberdade negra, e avó de talvez o maior dos líderes da luta contra a escravidão. Ou se você quiser resumir, simplesmente Aqualtune.
Não consegui saber de fatos sobre a infância da princesa. Seu rastro histórico começa no ano de 1665, quando, segundo a história, liderou cerca de 10mil guerreiros congoleses, no que ficou conhecido como “a Batalha de Mbwila”, quando a sua tribo foi atacada por outra de nome “Wachagas” - há quem diga que o conflito foi provocado pelos portugueses, interessados em cativos para o comércio de escravos. O fato, é que a tribo de Aqualtune perdeu o combate, e a cabeça o pai dela, o rei de Mani-Kongo, foi cortada e exibida em uma igreja, enquanto a sua filha, foi presa com seus companheiros e vendida como escrava.
Então, teria sido enviada em um navio negreiro para o forte de Elmina, em Gana, onde teria sido “batizada” por um bispo católico e, como prova de seu batismo, foi marcada uma flor com ferro quente em cima do seu seio esquerdo. Daí, completou a travessia no navio negreiro para o Brasil, onde desembarcou em Recife. Alguns dizem que ela já teria embarcado grávida, e teria sido estuprada diversas vezes por outro escravo, pois, forte e saudável, foi escolhida para ser vendida como escrava reprodutora. Conta que em desespero, ao embarcar em Recife, teria tentado correr para o mar- provavelmente uma tentativa desesperada de voltar para a sua terra natal.
Porém, nossa guerreira se encontrava em um estado de letargia profundo. Provavelmente, depressão- e quem não compreenderia?  Já em Recife, foi vendida para uma fazenda especializada em gado e o dono da fazenda, ao saber da sua origem, e que Aqualtune ainda era venerada por alguns escravos devido a sua origem, a entregou para os seus piores homens em sua fazenda.
E a letargia em nossa heroína continuava. Até que, na altura do sexto mês de gravidez, ela sentiu seu bebê se mexer e “seu sangue se mexeu junto”.
Então, ela ouviu falar em um chamado “Reino dos Palmares”. Desde o primeiro momento da escravidão no Brasil, que vários negros criaram centros de resistência fugindo para o interior. Mais ou menos em 1606, um grupo de escravos conseguiu se estabelecer nas montanhas de Pernambuco, e ali conseguiram estabelecer um “mocambo”, na região conhecida como Palmares.
Então, surgiu em Aqualtune a vontade de fugir e se juntar ao povo de Palmares. Se juntou a um grupo de escravos para se insurgir e destruir a casa grande. Conseguiu e , no meio de sua fuga, mais escravos foram se somando ao grupo ao longo do caminho.  Conta-se que chegaram com ela cerca de 200 escravos ao Reino de Palmares. Então, alguns contam que sua origem real teria sido reconhecida, mas o fato é que ela se tornou o líder do Reino dos Palmares. E dentro do chamado reino dos Palmares, ela teria fundado o chamado “Quilombo dos Palmares”.  Ali, Aqualtune deu à luz a dois filhos, ambos guerreiros que também entraram para a história: Ganga Zumba e Ganga Zona, conhecidos pela sua coragem e liderança. Também teve uma filha, de nome Sabina, que teve mais tarde, um menino chamado Zumbi, que mais tarde ficaria conhecido como “Zumbi dos Palmares”, e seria reconhecido como um dos maiores líderes negros da história.
O final da vida de Aqualtune é controverso. Alguns dizem que uma das várias expedições enviadas pelo governo português e donos de fazenda, teriam queimado a vila onde ela vivia junto com outros idosos da comunidade. Outros alegam que ela teria conseguido fugir. Outros ainda afirmam que ela simplesmente morreu de doenças da velhice. O fato, é que há uma lenda que os deuses da África teriam tornado nossa guerreira imortal, um espírito ancestral que conduziu seus guerreiros até a queda definitiva do quilombo dos palmares em 1694. Dizem que até hoje ela é lembrada em Pernambuco, e a princesa, cantada na música Zumbi, de Jorge Bem Jor, seria uma referência à Aqualtune.


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