quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Carlos Marighela: ativista político e educador


Segue abaixo um pouco da vida e do ativismo de Carlos Marighela, seja na política, seja na educação popular.

Nascimento: 5 de dezembro de 1911, Salvador, Bahia morte: 4 de novembro de 1969, São Paulo, SP Carlos Marighella foi morto em emboscada preparada pelo DOPS de São Paulo. Carlos Marighella era filho de um imigrante italiano, o operário Augusto Marighella e Maria Rita do Nascimento, negra e filha de escravos. Teve sete irmãos e irmãs.

Fez os estudos iniciais no Ginásio da Bahia, hoje Colégio Central. Contrariando as expectativas reservadas a famílias de poucas posses, em 1929, Carlos começou a cursar engenharia civil na Escola Politécnica da Bahia. Já nessa época, com 18 anos, Carlos despertou para as lutas sociais e entrou no Partido Comunista. Aos 21 anos, em 1932, foi preso pela primeira vez, por escrever e divulgar um poema com críticas ao interventor da Bahia, Juracy Magalhães.
Em 1936, abandonou o curso de engenharia e mudou-se para São Paulo, com a tarefa da direção partidária de reorganizar o Partido Comunista, que se encontrava esfacelado, após as lutas de 1935, na chamada Intentona Comunista. Foi novamente preso.
No ano de 1937 aconteceu a anistia, assinada pelo então ministro da Justiça, Macedo Soares e Marighella foi libertado, mas as perseguições não cessaram, pois nesse mesmo ano Getúlio Vargas deu o golpe instaurando o Estado Novo que colocou o Partido Comunista na clandestinidade. A militância de Carlos Marighella incomodava o governo e é novamente preso em 1939, e desta vez, confinado em Fernando de Noronha. Consta que neste presídio foi estabelecida, pelos próprios prisioneiros, uma divisão igualitária de tarefas, independente do peso político que o indivíduo tivesse fora da prisão. Criaram uma Universidade Popular e ensinavam uns aos outros filosofia, história, matemática. Marighella deu aulas de filosofia.
Após três anos em Fernando de Noronha, Carlos e os companheiros presos foram transferidos para o presídio da Ilha Grande, no litoral do Rio de Janeiro. Fernando de Noronha, nessa época do conflito da Segunda Guerra Mundial, passou a ser base de apoio das operações militares dos aliados no Atlântico Sul.
O início das divergências
No ano de 1943 aconteceu o polêmico apoio do Partido Comunista ao governo ditatorial de Vargas, em razão da entrada do Brasil na guerra. Marighella discordava dessa posição, mas mesmo preso é eleito para o Comitê Central do partido.
Com a vitória dos aliados na luta contra o nazismo e o fascismo, no ano de 1945, aconteceu nova anistia no Brasil. O Partido Comunista voltou à legalidade e Marighella foi eleito deputado constituinte.
Com o fim do Estado Novo, venceu as eleições o general Eurico Gaspar Dutra, empossado em 31 de janeiro de 1946, que, aproximando-se dos setores conservadores, desencadeou ferrenha perseguição ao Partido Comunista, que foi posto novamente na ilegalidade, em 1947. Nessa época Marighella dirigia a revista teórica do partido chamada Problemas. No início de 1948 foram caçados os mandato dos parlamentares comunistas e Marighella voltou à clandestinidade. Ainda nesse ano nasceu o seu filho Carlos, fruto do relacionamento que teve com Elza Sento Sé. Conheceu Clara Charf, que será sua companheira até o fim da vida.
Na clandestinidade, de 1949 a 1954, em São Paulo, Marighella atuou na área sindical do partido, mas incomodava a direção partidária, pois era considerado excessivamente esquerdista. Sua atuação aproximou o partido da classe operária e juntos promoveram uma greve geral, conhecida como a “Greve dos Cem Mil”, em 1953. Também participou da campanha “O petróleo é nosso”. Ainda em 1953, foi à China e à União Soviética, retornando em 1954.
No ano de 1954, depois da morte de Getúlio Vargas e no início do governo de Juscelino Kubistchek, os comunistas, ainda na ilegalidade, começaram a atuar com mais visibilidade. Na política internacional fatos relevantes marcaram esse período: em 1956, o XX Congresso do PC da União Soviética denunciou os crimes de Stálin; em 1959, aconteceu a revolução cubana. Vivia-se o auge da chamada “guerra fria”, mas o Partido Comunista Brasileiro adotou a “coexistência pacífica” pregada pela União Soviética.
Com o fim do governo de Juscelino Kubistchek, Jânio Quadros assumiu a presidência, para renunciar sete meses depois. João Goulart, depois de uma crise política, tomou posse e o Partido Comunista voltou à legalidade aproximando-se do governo. Carlos Marighella passou a divergir da linha adotada pelo partido, divergências que em 1962, deram origem ao Partido Comunista do Brasil – PC do B.
Em 1964, o golpe de estado, que estabeleceu a ditadura militar, proporcionou uma nova perseguição aos comunistas. Marighella foi baleado e preso num cinema da Tijuca, no Rio de Janeiro. Conseguiu sobreviver e ficou encarcerado por 80 dias, e em seguida, foi solto pela atuação do advogado Sobral Pinto.
Publicou Por que resisti à prisão, em 1965 e em 1966, A Crise Brasileira onde discorreu sobre sua opção por organizar os trabalhadores brasileiros contra a ditadura e a luta pelo socialismo. Nesse livro pregava a luta armada, com base numa aliança entre operários e camponeses.
Carlos Marighella continuou divergindo da linha oficial adotada pelo PCB e, em 1967, suas posições saíram vitoriosas na Conferência Estadual de São Paulo, em confronto com Luiz Carlos Prestes. Nessa época, preparava-se o VI Congresso do partido e aconteceu uma intervenção da direção partidária nos diretórios dos estados, visando impedir o crescimento das idéias defendidas por Marighella, que, rompeu com o partido logo após uma viagem à Cuba, onde foi participar de uma reunião da Organização Latino-Americana de Solidariedade-OLAS. Sua participação foi desautorizada pela cúpula partidária. Retornando ao Brasil foi expulso do PCB e, em seguida, fundou a Ação Libertadora Nacional-ALN, que preconizava a luta armada.
1968 foi um ano de atos radicais da ALN. Marighella participou de diversas ações armadas visando adquirir fundos para a construção do partido, com diversos assaltos a bancos que foram reivindicados pela ALN. A organização também teve fortes influências no meio estudantil.
Nesse período a ditadura aumentou a repressão aos grupos de esquerda, entre eles, a Vanguarda Popular Revolucionária, comandada pelo capitão Carlos Lamarca, que desviou um carregamento de armas para a guerrilha que se instalava no Vale do Ribeira, em São Paulo. Em setembro desse ano, o embaixador norte-americano foi feito prisioneiro por integrantes da ALN e do MR-8, e foi trocado por quinze presos políticos.
Marighella era apontado como inimigo público número um. Cartazes de “Procurados” foram espalhados por todo o Brasil e a sua perseguição envolveu toda a estrutura da polícia política. Para orientar as ações da ALN, Marighella escreveu o Mini-manual do Guerrilheiro Urbano.
A Aliança Libertadora Nacional tinha aproximações com os frades dominicanos e alguns deles estavam presos. Montou-se uma emboscada, através do contato desses frades, que agendaram, sobre tortura, um encontro na alameda Casa Branca, em São Paulo. No dia 4 de novembro de 1969, às oito horas da noite, Carlos Marighella caiu na emboscada armada pelo extinto DOPS (Departamento de Ordem Pública e Social) de São Paulo. Cercado por 30 policiais, com o delegado Sérgio Paranhos Fleury, à frente, foi assassinado. A ALN existiu até 1974.
Sua situação de combatente contra a ditadura foi reconhecida pelo governo brasileiro, em 1996 e sua esposa Clara Charf passou a ser indenizada, a partir de 2008.
*Antônio do Amaral Rocha é jornalista, com estudos de pós-graduação em Literatura Brasileira e Cinema. Trabalha como editor, artista gráfico e resenhista, colaborador free-lance de diversas publicações em São Paulo matéria original.
https://www.geledes.org.br/carlos-marighella/

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